Curiosidades

 

Um pouco sobre a grafia dos nomes nas colônias alemãs do RS

Gaspar Henrique Stemmer
São Leopoldo-RS 


          A grafia de nomes dos colonos alemães divergia de um registro para outro, dependendo ainda de como as pessoas eram conhecidas pelos familiares e amigos. 
            Para o pesquisador, sugerimos primeiramente que os nomes devam ser mantidos na sua forma original. Em algumas obras genealógicas os nomes foram traduzidos para o português, o que deve ser evitado.

O costume de exigir que o nome de uma pessoa tenha forma totalmente determinada e fixa é moderno, coisa de burocratas, e parcialmente motivado pela grande população atual, onde diferenças podem causar confusão. Em épocas passadas quase todos se conheciam nas comunidades, e a forma como o nome era dito era o que valia.

Os pastores, padres e funcionários públicos anotavam os nomes como lhes soavam, e assumiam freqüentemente a idéia de que as pessoas não saberiam escrever seus próprios nomes melhor do que eles. Era costume as pessoas de origem alemã se apresentarem com o nome em alemão a quem falasse alemão, e em português a quem falasse português. Assim, Karl, Carl, e Carlos; Elisabeth e Isabel ou Izabel, etc., são rigorosamente a mesma coisa do ponto de vista dos costumes da época.

Este costume foi se alterando aos poucos com a introdução do registro civil, pelos fins dos anos 1800, e terminou de vez com a perseguição de que os alemães e descendentes foram vítimas durante a 2ª guerra mundial. Nomes alemães serviam como justificativa para perseguição, e o uso pouco rigoroso das formas do nome servia para acusações de falsidade ideológica.

Na época da guerra muitas pessoas tiveram suas casas saqueadas, seus livros queimados por serem escritos no idioma alemão, como também alguns registros de igrejas (como os de Lomba Grande que pertence a Novo Hamburgo-RS), tiveram seus rádios irregularmente apreendidos por policiais e autoridades com a desculpa de estarem sendo utilizados como instrumentos de espionagem, e até motos e carros de fabricação alemã foram igualmente apreendidos com justificativas assemelhadas.

 Nos nomes alemães, freqüentemente, de fato quase que usualmente, o segundo prenome de uma pessoa, com mais de um prenome, era o principal, ao contrário do costume para os nomes portugueses. Muitas pessoas invertiam a ordem dos nomes, de acordo com a língua em que se apresentavam, para preservar a preferência de nomes.

Assim, alguém com o nome de Johann Karl, acostumado a ser chamado Karl, poderia ser Carlos João em vez de João Carlos nos documentos e registros em português, para que Karl ou Carlos fosse assumido como nome principal. Em alemão, certos sons podem ser grafados por mais de uma maneira, como, por exemplo:

 

a) V soa como F, (o nosso V é grafado W em alemão); assim Vetter e Fetter, Höfel e Hövel soam igual. b) EI, EY, AI e AY soam AI. Assim temos o nome Kayser escrito como Keiser, Kaiser, Keyser.

c) K, CK e às vezes o C, dependendo da vogal que o segue, soam igual, etc. Assim temos Caspar e Kaspar, Karl e Carl, Catharine e Katharine, Frank e Franck.

d) Ä (a tremado) e AE são considerados equivalentes gráficos. Assim Kraemer e Krämer é a mesma coisa.

 

e) Ö (o tremado) e OE são considerados equivalentes gráficos. Assim Köhler e Koehler, Kröff e Kroeff, Rönnau e Roennau são equivalentes.

 

f) Ü (u tremado) e UE são considerados equivalentes gráficos. Assim temos Müller e Mueller, Schuenemann e Schünemann, Schüler e Schueler.

 

g) DT e TT soam como T, assim temos Schmidt, Schmitt e Schmit. No livro de registros 1 da Comunidade de Hamburgo Velho, o pastor Haesbaert era consistente em reservar a forma TT para a família de Johann Peter Schmitt e seus irmãos. Nos livros 2 e 3, a questão é mais confusa.

 

h) Z soa como TZ ou TS, sendo assim a grafia TZ redundante. Temos Harz e Hartz, às vezes até Hardts, Mentz e Menz, Schmitz e Schmidts, Schweizer e Schweitzer.