Por que e em que circunstâncias os alemães vieram para o Brasil?

 Sobre a vinda dos alemães para o Brasil existem explicações tanto na origem como no destino do processo migratório. Em primeiro lugar, é preciso destacar que os alemães que emigraram da Europa antes de 1871 – ano em que o Chanceler Otto von Bismarck completou a unificação dos reinados e principados independentes que tinham na língua alemã um elo comum graças à tradução da Bíblia por Martin Lutero eram provenientes de distintos departamentos políticos e falavam diferentes dialetos medievais. Esse era o caso dos povos da Prússia, Vestfália, Baixa-Saxônia, Schleswig-Holstein, Pomerânia e Renânia, de onde posteriormente sairia a maioria dos imigrantes alemães que aportaram no Brasil. 

E por que teriam abandonado sua terra natal? Além do desejo natural de progredir e realizar a utopia de uma vida melhor, uma série de fatores políticos, econômicos e sociais contribuiu para a emigração alemã no século XIX. Entre esses fatores, destaca-se o morgadio que, ao privilegiar o filho primogênito como herdeiro dos bens e propriedades da família, agravou a situação da excessiva oferta de mão de obra resultante do esgotamento das fronteiras agrícolas e das mudanças industriais da época. A devastação causada pelas Guerras Napoleônicas e a conseqüente inquietação social ao longo do rio Reno também estimularam o êxodo em massa da população alemã. 

No lado brasileiro, a grande impulsora da imigração alemã no início do século XIX foi a Arquiduquesa Leopoldina Carolina Josefa, filha de Dom Francisco II, último Imperador do Sacro Império Romano da Nação Alemã e primeiro Imperador da Áustria, da Casa dos Habsburgos. Efetivamente, ao contrair núpcias, em 1817, com o Príncipe Dom Pedro I, da Casa de Bragança, ela passou a exercer crescente influência na Família Real de Portugal e, posteriormente, na nova Família Imperial do Brasil, para fomentar a vinda dos imigrantes alemães a partir de 1824.

Os objetivos políticos da imigração alemã eram proteger o Império brasileiro contra uma eventual invasão portuguesa depois da Declaração da Independência em 1822; promover a ocupação territorial do sul do Brasil através da colonização; e preservar a integridade física e o equilíbrio geopolítico na região cisplatina. Para a consecução desses objetivos, entre 1824 e 1830 o Governo Imperial patrocinou a vinda de aproximadamente 5.300 colonos para o Rio Grande do Sul e de outros tantos soldados que permaneceram no Rio de Janeiro para integrar os Batalhões dos Estrangeiros, estabelecidos para proteger militarmente a Família Imperial.

A imigração européia foi suspensa no Rio Grande do Sul nas décadas de 1830 e 1840, devido à pressão exercida pelos latifundiários sobre o Governo Imperial. Mas o quadro se modificaria a partir de 1848, quando o Governo Geral – consciente de que o latifúndio se tornara um entrave à exploração intensiva da terra – cedeu às Províncias terras devolutas destinadas exclusivamente à colonização, amparado na Lei Geral No. 514 de 1848 e na Lei de Terras No. 610 de 1850. Começou, assim, no Rio Grande do Sul, no princípio da década de 1850, a segunda fase da imigração européia, facilitada, inicialmente, pela doação das terras devolutas e, a partir de 1854, por uma política local de colonização feita à base de venda da terra, conforme o estabelecido na Carta de Colonização da Província de São Pedro do Rio Grande.

O exame da evolução econômica e cultural do Rio Grande do Sul revela que, ao lado do papel desempenhado pelo latifúndio no desenvolvimento histórico do Estado, destaca-se a duradoura influência do processo colonizador enraizado no regime da pequena propriedade rural, que se consolidou com a imigração européia do século XIX. Foram inúmeras as dificuldades encontradas pelos imigrantes europeus e seus descendentes que construíram a história colonial gaúcha, mas os resultados de seu trabalho e seus esforços demonstraram que a política de colonização adotada no Império e na Primeira República foi exitosa, contribuindo decisivamente para a formação econômica e cultural do Estado do Rio Grande do Sul no contexto do desenvolvimento nacional.